UFFS - Chapecó - Semana de Letras - Setembro de 2019
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- 19 de out. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de set. de 2021
Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
Apesar disso
Tenho em mim todos os sonhos do mundo
...
Universidade ocupada, cartazes colados, camisetas, reuniões, falas públicas, apresentações artísticas, nas paredes e nas bocas: "LUTO PELA DEMOCRACIA", "LUTAR NÃO É CRIME", "FORA MARCELO" (em referencia ao reitor nomeado Marcelo Recktenvald) entre outras coisas.
Cheguei na UFFS, dia 09/09, o clima era um misto de tensão e cansaço. Depois da consulta pública para reitor ter acontecido e o terceiro colocado ser nomeado para o cargo, estudantes de diversos cursos se reuniram e resolveram parar a UFFS, protestando contra o ato do Ministro da Educação e exigindo que se cumprisse o resultado das eleições.
Tabacaria se tornou simbólico para que eu pudesse me conectar com tudo o que estava acontecendo na UFFS na semana do dia 9 a 14 de setembro. O motivo da viajem foi o convite recebido alguns dias antes do grande amigo Ricardo Cabral Penteado, professor do curso de Letras/Espanhol da UFFS, para que eu fosse até Chapecó ministrar uma oficina de teatro na semana de estudos do curso de Letras. Não foi por acaso que esse convite aconteceu, eu e Ricardo somos iratienses, amigos de longa data e formamos, junto com Jorge Teixeira e Thiago Viante, uma banda chamada Bombtrack, tributo ao RTAM (Rage Against the Machine) e ao Grounge clássico. E aí estava a grande sacada, Ricardo também convidou Thiago Viante, e Jorge Teixeira para tocarmos no encerramento do evento.
Cheguei em Chapecó as 2h30 da manhã de terça-feira. Depois de um descanso mereceido, ainda pela manhã fomos até o bloco da reitoria da UFFS, onde estava acontecendo a IX Semana Acadêmica de Letras denominada "Resistir, verbo transitivo". Não havia melhor nome a ser escolhido, era sobre isso que se tratava a vida no campus da reitoria desde o dia 30 de agosto, quando teve início a ocupação.
Para o curso de Letras, com certeza foi uma semana que entra para a história, para a minha pessoa, ter vivido esse momento, ter levado um pouco do que sei para Chapecó, foi sensacional e já se tornou inesquecível.
Não posso deixar de falar sobre Marília Garcia, escritora carioca que fez uma performance do seu livro de poemas "Parque das ruínas". Um momento sublime onde se viu e ouviu um poema da boca da autora, um poema visual, um misto de linguagens, com projeções e a voz moderadamente tensa de Marília, pulsante, como a arte, condizente com aqueles dias difíceis.
Mas a ocupação não era feita só de palavras de ordem e reuniões políticas, havia uma diversidade cultural que deixou o ambiente com cara muito viva, músicos, dançarinos, malabaristas, poetas, rappers, pintores e muita gente afim de conversar sobre tudo isso que estava acontecendo, e sobre tantas outras coisas. Duas presenças marcaram essa semana, o poeta "EJ" (Emilio Juane) que participava da organização da semana de estudos e das ações da ocupação, possuidor de uma sensibilidade que só um poeta poderia ter. Também não poderia deixar de falar sobre a banda "Cabobo Operário" que se apresentou na noite de quarta e mostrou muita originalidade e atitude dignas de respeito, uma mistura entre o rap, reggae e rock de tirar o folego.
Fizemos nossa apresentação com a Bombtrack, sem palavras para descrever, tamanha intensidade daquele show, ainda contamos com a presença memorável de Murilo Kampferd Chaise, uma pessoa fantástica, além de ser um grande baixista que aceitou a bomba para substituir o Jorge de última hora, aprendendo todo o repertório em menos de 48 horas.
Sobre a oficina de teatro, foi incrível, trabalhamos o corpo e a voz de forma a torná-los essenciais para qualquer coisa em nossa vida, fizemos a atividade no saguão, no meio das barracas onde dormiam os estudantes. Além da oficina ainda fui convidado a mediar uma mesa de discussões sobre o filme de Marcelo Massagão "Nós que aqui estamos, por vós esperamo". Somente isso já bastaria para valer o esforço de ir até Chapecó, todo o resto foi a cereja do bolo.
Nome
Escondo-me nas entrelinhas
do meu desejo mais sincero
Não entendi ainda, espero.
Se não tentar,
como posso negar
Contradigo-me para testar
minhas próprias teorias,
nada é absoluto.
Nem o que acredito,
nem o que, por tudo, refuto.
Sou tantas visões, sou mundo.
Porque inventar regra
para o meu corpo:
Porque prender-me
em um nome:
Depois, tudo some,
mas aqui ainda sou.
EJ
Emilio Juane
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